BeePolen
Tudo Sobre Pólen de Abelha
Casa Lourenço:
A História
Hoje, dia 2 de Fevereiro de 2021, o meu pai faz 70 anos. É um bom dia para começar a escrever um artigo sobre a história da Casa Lourenço.
A Casa Lourenço é uma pequena exploração agrícola familiar, com uma história ainda pequena, mas com raízes bem profundas e consolidadas.
Neste artigo vamos falar um pouco das nossas origens e de como chegámos até aqui.
Venha conhecer-nos um pouco melhor!
As origens
A Casa Lourenço tem a base da sua atividade na Cumeada, uma pequena aldeia situada no concelho da Sertã, bem no centro de Portugal. É uma zona rural onde o relevo é difícil mas as pessoas são rijas. A agricultura praticada é essencialmente de subsistência, em pequenos vales férteis rodeados por uma floresta, com relevo normalmente íngreme, com uma dinâmica a variar entre o selvagem e o desordenado!
Este projeto, “A Casa Lourenço”, foi criado por dois “jovens”, eu o Rui de 42 anos, que escrevo estas linhas, e o Augusto de 37, o meu irmão.
Talvez por sermos rapazes, ou talvez não, desde pequenos que nos habituámos a andar no campo e a participar em todas as tarefas agrícolas.
Quando éramos pequenos, o meu pai, o “Zé Augusto” trabalhava numa pequena serralharia de família e a minha mãe, a “Maria” fazia as lides do campo e as da casa.
Nos anos 80, na aldeia, ainda havia uma interessante atividade agrícola de subsistência. Esta agricultura estava completamente integrada no contexto. Tínhamos uma vacaria “quase industrial” que chegou a ter 4 vacas! Havia galinhas, porcos, coelhos, cabras e ovelhas. Nos terrenos à volta qualquer pequeno vale disponível era aproveitado para semear o que viria a ser comida para todos aqueles animais.
É claro que havia (e ainda há!) uma “horta” cuidadosamente aprimorada de onde vinha a maioria da comida de casa. As batatas, as couves,o milho, o feijão, os nabos e seus grelos, todo o tipo de vegetais… Havia árvores de fruto, oliveiras e vinha.
Mas o mais interessante é que tudo era feito de forma integrada com a Natureza, e com um equilíbrio incrível. E isso acontecia de forma completamente intuitiva.
Recordo-me por exemplo da minha mãe trocar as “jornas” com as vizinhas e as familiares, ou seja: se era necessário fazer um trabalho pedia-se às vizinhas que viessem ajudar e para compensar, ficava-se a dever um dia de trabalho a cada uma das pessoas que viesse ajudar. Não havia qualquer dinheiro envolvido, mas havia um sentido de solidariedade e de responsabilidade para com o outro.
Claro que se fosse a jorna de um homem era um pouco diferente, tinha que ser trocado por um dia de outro homem, mas normalmente era pago, uma vez que cada homem “tinha uma casa para governar”. Como se as mulheres não tivessem… Mas também só se chamava um homem para trabalhos mais específicos ou especializados. Já o trabalho dos miúdos, esse era um bônus que se dava, tinham direito à “buxa” e já não era mau!! Não se chamava assim, mas o estatuto era mais ou menos o de um aprendiz!!
Foi neste ambiente completamente integrado e inspirador para a vida que fomos crescendo, a fazer desde pequenos todas as tarefas que estavam destinadas aos Homens!! E a absorver todo o enorme conjunto de conhecimentos, competências e de cultura que muito nos marcaram para a vida.
O tempo foi passando, o mundo foi mudando e esta forma de vida deixou de ser tão praticável. As coisas da terra que tinham algum valor passaram a chegar dos supermercados, a preços completamente insustentáveis para um mínimo de subsistência e a família teve que se ajustar aos novos tempos.
O “Zé Augusto” acabou por se tornar um dedicado camionista e a “Maria” uma modesta e genuína cozinheira do Centro de Dia da aldeia. Mas apesar da vida mudar, a horta e os animais sempre se mantiveram parte da família.
O Rui e o Augusto foram seguindo os seus estudos e as suas vidas. Eu tornei-me um técnico de desporto (ou professor de educação física se preferirem) e o Augusto tornou-se militar da GNR.
Saltando alguns anos, chegamos por volta de 2010. Por venturas e desventuras, os dois irmãos, acabámos por estabilizar as nossas vidas e dentro das nossas profissões deu-se o caso de termos possibilidade de voltar às origens. As famílias começaram a crescer e uma responsabilidade por aquilo “que era nosso” acabou por nos ir incentivando a querer dar valor às terras e às culturas que bem conhecíamos desde criança.
Embora dêmos muito valor às vivências do passado, não olhamos para elas com saudosismo da forma das mesmas. Sabemos perfeitamente que o mundo mudou.
Mas, procurando o mesmo equilíbrio com a Natureza que vivemos em criança, sabemos que há formas de dar valor ao património e a estas terras muitas vezes ávidas de quem saiba retirar delas o fruto que elas podem dar. Sempre com o respeito de quem lida com um bem maior, que é de todos e não de um ou outro proprietário que usa aqueles recursos durante a sua vida.
Primeira experiência com apicultura
O primeiro projeto que empreendemos foi em 2013, uma plantação de nespereiras. Mas não teve grande sucesso!! Escolhemos esta espécie porque havia no terreno duas boas nespereiras, mas rapidamente percebemos que esta evidência empírica não era suficiente para garantir que esta fruta exótica seria boa para estas terras.
Esta experiência reforçou ainda mais a ideia de que tínhamos que apostar nas espécies endógenas da região, que estão bastante mais adaptadas ao território.
Foi então que começámos a pensar no medronheiro, uma espécie completamente endógena da região perfeitamente adaptada ao clima, conhecida desde há séculos pelo seu fruto, mas especialmente pela aguardente que se produz com ele. Começou a desenvolver-se no país por essa altura um interesse especial por esta planta, começaram a aparecer os primeiros pomares ordenados de medronheiro, desenvolveram-se muitos estudos e perspetivas positivas em termos de valor deste fruto.
Dentro da lógica de sinergia com a Natureza começámos também a interessar-nos por apicultura e em Maio 2015 comprámos os primeiros 12 enxames. Foi uma aprendizagem incrível. Este era um animal que curiosamente não tinha qualquer tradição da família, embora o sítio onde foi instalado o primeiro apiário fosse chamado pela família de Vale da Colmeias.
Projeto jovem agricultor
Com o passar do tempo começámos a levar estes assuntos mais a sério e decidimos fazer uma candidatura a um Projeto Jovem Agricultor, que depois de muitos sobressaltos viu a sua aprovação sair a 03 de Fevereiro de 2016.
Neste projeto sempre tivemos a preocupação de que a nossa produção fosse integrada com a Natureza e desenvolvida de forma sustentável.
Assim optámos por duas produções:
-Uma plantação de Medronheiros com 3,7 hectares
-Uma exploração de apicultura com 120 enxames
Quanto à apicultura que tínhamos já iniciado no ano anterior, foi necessário aprofundar muito os conhecimentos técnicos e práticos, de modo a obter o melhor rendimento de cada colónia, sem nunca comprometer o seu equilíbrio. As Colmeias estão em plena produção, tendo-nos dedicado especialmente à produção de Pólen e de Mel.
Quanto aos medronheiros, foi colocada a primeira planta em 24 de novembro de 2016.
O verão seguinte foi extremamente quente! A rega não arrancou como devia e as plantas ainda frágeis sofreram bastante. Algumas não resistiram, mas com a ajuda da família foram todas replantadas.
Apesar de todas as dificuldades, os medronheiros lá vão crescendo, e já darão este ano a primeira (pequena) colheita.
Sempre com a ajuda da família, o projeto tem crescido de forma suave, mas consolidada.
Modo de produção biológico
No seguimento da nossa preocupação com o impacto dos nossos processos produtivos no meio ambiente, decidimos em julho de 2019 converter a exploração para Modo de Produção Biológico, como forma de consolidar o nosso compromisso com a sustentabilidade e também, naturalmente, de gerar um reconhecimento melhor por parte do mercado dos nossos produtos.
O período de conversão demorou um ano para a apicultura e demorará três anos nos Medronheiros.
Em 2020 tivemos pela primeira vez a produção de mel certificada como BIO e em 2021 também o Pólen passou a ter certificação de Biológico.
Grande incêndio de 2019
Nem tudo foi fácil neste percurso, e um dos momentos mais difíceis ocorreu numa sexta feira 13, em setembro de 2019.
A aldeia da Cumeada foi, na tarde desse dia, tomada por um violento incêndio que destruiu por completo a maior parte da freguesia. A nossa exploração não foi exceção…
Os nossos medronhais são pequenas parcelas que estão implantadas no meio da floresta e a violência das chamas não permitiu proteger toda a plantação.
Lutámos contra as chamas com todos os meios que tínhamos à disposição e contámos com a colaboração da proteção civil, no entanto, cerca de metade dos pomares de medronheiros ficaram arrasados.
Mais uma vez com ajuda da família, e passados 15 dias os cerca de 3kms de rega destruído estava reposto e começou a chegar aos medronheiros a água que tanto careciam.
Felizmente os medronheiros são plantas muito robustas, e passado algumas semanas, a maioria destes estavam a rebentar e novamente a crescer a partir da raiz que já tinham bem implantada dentro de terra. Ainda assim, no outono de 2020 foi necessário voltar a replantar.
Felizmente com as abelhas o impacto do incêndio não foi tão grande. Sabemos que a nossa região os incêndios estão sempre à espreita e os apiários estavam bem protegidos. À volta tínhamos cerca de 10 a 15 metros limpos o que permitiu que as colmeias escapassem. Apenas perdemos uma colmeia, num apiário onde o incêndio passou com extrema violência e onde o fogo pegou num capta pólen.
No entanto, o monte ficou completamente negro, e as abelhas sem acesso a qualquer tipo de flores e alimento. Tivemos que deslocar 3 dos nossos apiários. Contámos, neste momento com ajuda de muitos amigos que, ao se aperceberem da situação, disponibilizaram de imediato os seus terrenos. Em alguns casos e apesar de a vegetação já estar a recuperar, os apiários ainda estão instalados nesses apiários emprestados.
Finalmente a Casa Lourenço
Em 2020 começámos a trabalhar a nossa marca e foi a partir deste ano que adoptámos a designação Casa Lourenço.
“Casa” está tradicionalmente muito associado às casas agrícolas e também pode ser um sinónimo de família, que como viram acima é um valor que prezamos bastante.
Lourenço é o sobrenome de Família, por isso, pareceu-nos óbvio como marca a Casa Lourenço!
Em janeiro de 2021, em parte empurrados pelo confinamento decorrente da Covid 19, decidimos avançar para novas formas de comercializar a nossa produção e é assim que surge a Casa Lourenço – Loja Online e o Blog BeePolen – Tudo Sobre Pólen de Abelha.
Este blog surge porque nos parece que o Pólen de Abelha é um produto muito pouco conhecido de todos, e tem como objetivo divulgar toda a informação que estiver disponível sobre este super alimento.
Esperamos que tenham gostado deste pequeno pedaço da ainda curta história da Casa Lourenço, que tenham ficado a conhecer um pouco as nossas origens e que passem a sentir-se também um pouco parte da nossa família.
© Casa Lourenço 2021. | Casal do Calvo – Cumeada | 6100-357 Sertã | Portugal